domingo, dezembro 12, 2010

A música alcançou a maioridade



E já faz um tempo, mas fingimos que ainda é aquela criancinha que precisa da "nossa" mesada para se manter. Ainda a vemos como na época que vendia seus discos de porta em porta para tirar um trocado e se manter nas gravadoras. Essa época já era. Agora ela é emancipada, sabe o que quer e onde buscar. A música não cansa de repetir: "sou independente!"

Dois shows ontem na Fundição Progresso me fizeram concluir essa ideia que já rondava com certa estrutura o cenário musical há (chute) 7 ou 8 anos, ou pelo menos eu tive tal percepção por essa época. Teatro Mágico e Forfun. Por fatores estigmatizantes, as duas bandas não tem nada a ver entre si, porém a justificativa é altamente louvável: a defesa da produção independente. Essa liberdade produtiva deixa tudo mais experimental, curioso e evolucionável.

Muitas bandas e músicos sem qualquer apelo comercial ou apoio de grandes gravadoras lotam suas apresentações sem quase nenhum reconhecimento de mídia, o que acaba parecendo ótimo por um lado. O público é segmentado e focado na apresentação, no prestígio ao artista, o que faz tudo ser muito mais interessante, tanto para a platéia quanto para quem está no palco. Sinergia. Empatia.



Forfun, que abriu o evento, me fez lembrar "meus tempos de moleque", apesar de provarem musicalmente o amadurecimento nas composições e produções musicais. Um dia visto como "punk rock adolescente" na época em que o emocore tomava expressão no Brasil, o que fez com que fossem taxados erradamente com tal rótulo, hoje demonstra o seu lado experimental agregando pitadas de reggae, dub, funk, música eletrônica e o peso das guitarras distorcidas. As letras tentam expressar novas reflexões de como o grupo enxerga o mundo, o dia-a-dia e algumas experiências particulares.

Sem qualquer expectativa sobre qualquer coisa, fiquei para assistir ao Teatro Mágico. Confesso que, antes de sair de casa, ouvi alguma coisa deles no Youtube, o que me despertou a curiosidade, mas nada que pudesse fazer algum pré-julgamento. Fugindo ao máximo da síndrome do underground, me surpreendi com tudo. Letras de grau elevadíssimo, inteligentes e conceituais. Performances circenses que fazem prender a atenção de qualquer ser perdido no meio de tanta informação... como eu.


Por muito e muito tempo não sentia tanta satisfação em tirar meu suado dinheiro do bolso e pagar por um ingresso. R$30,00 e pareceu sair de graça, levando em consideração toda a estrutura, performances, entretenimento, expressão artística e cultural, além da inspiração agregada. Minhas palmas não conseguiam traduzir tamanha sensação em constatar que ainda há arte na música, como nunca deveria deixar de haver.

Uma pena eu não estar com tanta energia para ficar até o final. A apresentação principal da noite foi extensa, aproveitando ao máximo a comemoração dos 7 anos de Teatro Mágico. Uma grande surpresa (para mim, claro), foi ver nada mais nada menos que Leoni subir ao palco e dividí-lo com os anfitriões. Nessa hora eu já não aguentava mais, depois de um sábado acordado desde as 7:00h. Sim. Leoni está correndo por fora na cena independente. Particularmente foi o momento menos empolgante, porém contextualmente curioso. Também não vi a participação dos Varandistas, banda que ainda não conheço.

Por último e não menos importante. O que assisti ontem não perde em NADA para shows ao triplo do preço, sejam estrangeiros ou nacionais inacessivelmente estrangeirados.

Algumas frases soltas no evento definem o começo deste post:
- "Não estamos em nenhuma rádio do Brasil, mas a Fundição está lotaaaada!"
- "Não vamos pagar jabá para rádio."
- "Baixem nossas músicas, gravem um CD e dê para um amigo, um primo. Essa é a pirataria boa."
- "Viva a música independente no Brasil!"

 


Viva a maioridade musical!


[Agora vou baixar o segundo CD do Teatro Mágico, porque os do Forfun eu já tenho desde os 18 anos.]


www.oteatromagico.mus.br






www.forfun.art.br